Não pensava falar do rapto de s. pedro porque não queria enveredar por conversas ideológicas. Mas o M abordou o tema e lá terá que ser... Não há muito a dizer do rapto, fui levado numa carrinha enquanto me davam murros na mona e uma mulher iliterada repetia ao filho: "vês filho, isto é que é um nazi". O puto daquele tempo, deve hoje em dia pensar que todos os putos de 16 anos são nazis... Depois estive umas horas em casa de um Senhor Patrão auto-intitulado comuna, onde me foram perguntando quem eram os meus chefes enquanto me davam murros na zona dos rins. Óbvio que não havia chefes nenhuns, mas sim e apenas devaneios de adolescentes. Depois de algumas promessas de me atirarem ao mar amarrado a uma pedra, acabaram por me largar a norte do farol de madrugada e daí voltei a pé, a correr ao longo da estrada. Cenas tristes de adultos incultos armados em revolucionários de meia tijela. As tentativas de condenar quem executou rapto e sequestro de menor resultaram infrutíferas, porque os tempos eram de ideologias de esquerda. A justiça revelou-se uma justiça política e não uma justiça dos tribunais. Uma justiça de esquerda. Ainda hoje é assim... É triste falar desta merda porque aconteceu no nosso país e ao nosso grupo. Justiça pelas próprias mãos. Mãos sem princípios e a quem os fins justificam os meios. Escusado será dizer que não tendo sido feita justiça, espero que aqueles senhores tenham acabado amarrados a uma cama, consumidos por alguma doença fétida, lenta e dolorosa. No entanto a minha grande satisfação foi obtida a partir de 2002. É que nos primeiros dias de Janeiro de 2002 fiz a minha primeira viagem a países de leste, no caso a Romania, à grande cidade do Ceausescu, Bucuresti. E desde aí até à data de hoje tenho feito inúmeras viagens, às vezes mais que uma por mês, à Romania, Hungria e Bulgária. Qual o meu espanto quando afinal o império que era proclamado como imponente, justo, de solidariedade e com igualdade de oportunidades, era uma fraude! De imponente não tinha nada, estava decrépito! E de igualdade para todos, só se fosse pela miséria em cada rua, pela mafia a dominar o quotidiano ou porque eu pagava por uma refeição mais do que o empregado que me servia recebia num mês... Dos amigos que ainda hoje lá tenho, ouvi as histórias mais degradantes e senti a revolta mais profunda. Deu-me gozo sinceramente. Não o infortúnio de vida dos amigos que lá fiz. Mas deu-me gozo ver com os meus olhos, que as ideologias daqueles que aviltaram os meus direitos naquela noite em s. pedro, eram afinal uma mentira. Compreendi que era disso que eles tinham medo. Não de mim, mas de qualquer ideia que pudesse contrariar a mentira que defendiam e que podia ser descoberta. E foi felizmente. Deu-me gozo o gajo do Hotel suplicar por uma gorja. O polícia nos passaportes fazer-se ao dinheiro que levava na carteira. Os andrajosos que nos tentavam arranjar negócios de sonho. As mulheres a oferecerem-se por meia dúzia de dólares. Deu-me gozo só aceitarem dólares! Babarem-se por dólares! Deu-me gozo não tolerarem os pretos. Deu-me gozo pergutarem-me se Portugal era o mesmo que o Brasil. Deu-me gozo ver a fraude e poder tocá-la. Deu-me gozo ver que as pedras do palácio do Ceasescu não são pedras, mas uma imitação em betão armado. E afinal percebi que o que se passou em s. pedro também foi uma fraude ao estilo da mulher de César... embora não o sendo, havia que parece-lo... Calhou-me a mim levar com os cromos, mas de nada serviu para me mudar as ideias. Antes para reafirmá-las... "Quem deseja viver, prepara-se para o combate, e quem não estiver disposto a isso, neste mundo de lutas eternas, não merece a vida."
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