06 maio 2009

Escavações arqueológicas

Ultimamente apetece-me contar histórias da vida real, fantasias que me povoavam a mente na juventude, histórias fantásticas da minha idade adulta. Adulta ou cota, é o que quiserem, porque tou-me pouco lixando para rótulos e chavões! Numa noite como outra qualquer, mas não num sítio qualquer, levaram-me a um bar na cave de um prédio de muitos andares, desgastado e sujo pelo tempo, pousado numa selva de betão armado e de recordações côr de sangue. A descida pelas escadas estreitas, a música electrónica a aumentar brutalmente de volume e o cheiro a perfume vulgar e incenso, fizeram-me imaginar uma descida ao inferno. Não me lembro do nome do bar, mas lembro-me das inúmeras salas psicadélicas povoadas de pessoas invulgares, roupas atípicas, risos, faces... Entrei na sala principal e encostei-me ao balcão corrido e ondulante para pedir uma bebida, talvez uma caipiroska. A parede do fundo era ocupada por uma cruz monumental em madeira, onde uma mulher nua e de seios voluptuosos representava a crucificação, pernas ligeiramente entreabertas... madeira feita pecado...Quando ia para comentar aquela visão alucinante, copo gelado na mão, uma mulher nua dançava à minha frente no balcão e outra ao lado e mais outra além...Os corpos retorcidos em cima do balcão, a cerveja vertida a escorrer, a música alucinante, os olhos com brilhos de luzes intermitentes, a sensação de uma descida ao purgatório... ou paraíso? Pensei no que pensava quando circulava na rua. Pensei no que pensaria a próxima vez que circulasse na rua. Pensava naqueles que pensam que só existe o mundo à superfície. E pensei: puta que pariu, isto não tem nada a ver! Isto não é desbunda, não é curtir, não é loucura! Isto é a loucura total! Afinal há mesmo vida para além da morte e há sítios que o comprovam... Quando ao fim da noite emergi na rua, nunca mais fui o mesmo, parte de mim diluiu-se naquele mundo, ficou misturado na cerveja a pingar na ponta do balcão, suspensa no ar, sem gravidade. Na rua a neve caía ao ritmo do zumbido nos ouvidos, o ar gelado cobria-me a pele, a noite abria-se para me deixar passar...Pensei no que é real, no que é imaginário, na importância dos sentidos... e deitei-me no mundo dos novos primitivos...

Resto do Post

2 comentários:

  1. Supremo. Pior só a discô dos paneleiros, em Torremolinos. Já pensaste em escrever um roteiro das tuas viagens? Está em voga men... E se assinares como A Besta, o socras não te processa nem nada.

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  2. Então e os AC/DC? Qu'é dele a reportagem? Abraços, mate.

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